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O adeus ao ?maninho? Walter Bártolo
* Por Sandro Paio O ano era 1978, e eu tinha recém-chegado a Ji-Paraná, onde viera com o meu pai, Alcides Paio, trabalhar na implantação da Rádio Alvorada. Era uma nova etapa na minha vida, e foi ali que conheci o ?maninho? Walter Bártolo?, como ele carinhosamente chamava as pessoas mais próximas. A princípio, ele me foi apresentado como um político sério e influente, que havia acabado de deixar a prefeitura de Ji-Paraná, e, logo de cara me surpreendeu, ao me dar um demorado abraço e um beijo no rosto, e, me dizer: ?Filho do Alcides, é meu filho, também?. Aos poucos, nos dias seguintes, fui conhecendo o verdadeiro Walter Bártolo. Bem diferente do político sisudo e populista que eu imaginara, ele era um seresteiro, tinha o verdadeiro ?espírito de um boêmio?, tanto é que começou a apresentar um programa na Rádio Alvorada e que se chamava ?A Volta do Boêmio?, onde mais do que colocar músicas de boêmia, ele gostava mesmo era de tocá-las e cantá-las. Como na maioria das vezes, era eu quem estava atuando como sonoplasta, foi se estabelecendo um vínculo de amizade e de confiança e que durou muito tempo ainda. E foi aí que, sem querer, eu pude presenciar uma de suas mais criativas criações e que, muitos anos mais tarde, tornar-se-ia o ?Hino de Ji-Paraná?. Estava em casa, num dia à noite, descansando, quando ele apareceu de repente e, com o violão às costas, acabou me convencendo em ir ao estúdio de gravação da rádio, onde ele ?precisava? gravar uma música que havia composto. Já no estúdio, com os equipamentos ligados, e com o 'maninho? completamente alterado, para não usar outra palavra, tive que usar de toda a paciência e ir resolvendo um a um todos os obstáculos. Sentado em uma cadeira de madeira com o violão no joelho, ele tocava a música, mas não se lembrava da letra. Então providenciei papel e caneta, além de mais uma garrafa, e fui, aos poucos, ajudando-o, não a compor, mas a restabelecer os poucos versos que ele já criara. Ficamos ali, os dois, até de madrugada, bebendo e gravando, pensando unicamente na música que ele fizera para homenagear a cidade que tanto amava. Encerrada a gravação, deixei-o em casa e fui dormir. Depois disso, ele ficou vários dias sem aparecer, até que um dia, quando voltou à rádio, quis saber se ele queria ver o resultado final da gravação, e, mais uma vez, fui surpreendido com sua atitude; pois ele simplesmente me perguntou: ?que gravação??. Depois que lhe relembrei de tudo, quis ouvir e muito emocionado (chorou até) disse que eu era o responsável por existir aquela homenagem tão linda. Anos depois, a música virou o hino oficial da cidade. Para mim, o mais importante em tudo isso, é a lembrança que mantenho da pessoa Walter Bártolo, a quem não importava o seu próprio esforço e a sua dedicação, desde que pudesse beneficiar aos outros, sempre desinteressadamente. Para quem não sabe, Walter Bártolo, mesmo com o seu boêmio e desorganizado, foi um dos melhores prefeitos da história de Ji-Paraná e deixou um legado de decisões e obras em sua administração, que perduram como algumas das mais importantes até os dias de hoje. De sua administração saíram projetos como a primeira Delegacia de Polícia, a Rodoviária, várias escolas municipais, a escola agrícola CRET (onde é o atual prédio da UNIR), o Hospital do SESP (onde funciona atualmente o HM), e, talvez, o mais importante de tudo, o prédio da Prefeitura. Walter era assim: humilde, simples e trabalhador. Ele gostava de fazer, de construir, de compor. Não se importava com reconhecimento, nem com lembranças... Talvez seja por isso que me lembro dele com tanto carinho. Talvez, seja por isso, que Ji-Paraná nunca vai esquecê-lo... * Sandro Paio é jornalista e publicitário. ...


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